Menos lixo e mais resíduos sólidos recicláveis

"Eu cuido do meu quadrado" é a nova iniciativa do Instituto Limpa Brasil para promover o Dia Mundial da Limpeza sem furar o isolamento social

July 31, 2020
Publicado por Cleci Leão.

O Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, assinou hoje uma portaria que institui a consulta pública a sugestões para o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares), aberta até o dia 30 de setembro para leitura e comentários por meio de plataforma acessada a partir do site do próprio ministério.

O Planares detalha a situação atual de tratamento de resíduos sólidos no país, e traça diretrizes para os próximos 20 anos, com vistas a aumentar a coleta seletiva e a reciclagem de materiais, reduzindo desperdícios e aumentando o reaproveitamento de energia. De acordo com o secretário nacional de Qualidade Ambiental Urbana do Ministério do Meio Ambiente, André França, “o plano mostra o caminho entre a situação atual e a desejada”.

Mas o diretor presidente da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), Carlos Silva Filho, relembra que ainda falta muito investimento tanto em infraestrutura quanto no custeio de todo o sistema de coleta seletiva. “Precisamos estabelecer um modelo de remuneração desses serviços”, diz Silva Filho, alertando que o reuso dos materiais captados na triagem não é suficiente para cobrir os custos do processo.

Quarentena

Em maio, a Abrelpe publicou um relatório avaliando que as medidas de quarentena e isolamento social geraram no país um aumento de 15% a 25% na quantidade lixo residencial. Por um lado, a situação é propícia para aumentar a conscientização popular. Com mais tempo dentro de casa, as pessoas começam a se dar conta da quantidade real de lixo que produzem no decorrer de um dia comum.

A conta é razoável: quem trabalhava fora, e agora mantém a atividade dentro de casa, não usa mais as lixeiras públicas, não deixa mais para o restaurante a responsabilidade de lidar com o resíduo do almoço, e tampouco a usa a coleta periódica dos escritórios. O ciclo de consumo e descarte fica mais visível, portanto, quando se resume a uma única lixeira na área de serviço.

É uma boa hora para começar a prestar atenção ao acúmulo de lixo que produzimos diariamente. Segundo Edilainne Muniz, coordenadora do Instituto Limpa Brasil, precisamos perceber que não existe a ideia de “jogar fora”. É preciso ganhar mais consciência sobre a produção e a separação dos resíduos – e simplesmente começar. “Não dá mais para usar a desculpa de que não fazemos porque o outro não faz; dizer que não separa o lixo porque não tem coleta seletiva, ou que a prefeitura não faz a destinação porque o cidadão não separa. É hora de aprender a praticar a responsabilidade compartilhada, mas de maneira individual”, diz a coordenadora da ONG, que é responsável pela execução brasileira do maior movimento mundial de mobilização e defesa do descarte adequado de resíduos, o Let’s Do It.

Com foco nas ações individuais, o evento “Dia Mundial da Limpeza” neste ano ganhou outro formato. Tradicionalmente, o World Cleanup Day mobiliza 180 países durante uma ação que dura 36 horas em prol da conscientização da coleta seletiva, consumo e descarte conscientes. Desta vez, os voluntários não vão se reunir em locais pré-estabelecidos, mas realizarão ações pontuais no entorno de suas residências.

Eu cuido do meu quadrado

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Em 2020, a ação do Dia Mundial da Limpeza vai acontecer no dia 19 de setembro. Nessa data, toda a população mundial está convidada a repensar sua atitude em relação à produção de lixo, a começar pelos hábitos de consumo. Desta vez, as ações do DML poderão ser realizadas em qualquer lugar do planeta, bastando para isso registrar a sua participação. No caso do Brasil, as inscrições acontecem pelo site do limpabrasil.org, e a sua presença é confirmada através do aplicativo QZela, que pode ser baixado gratuitamente em aparelhos com sistema da Apple ou Android.

Não leva mais do que 30 segundos: o usuário abre uma ocorrência no próprio segmento Dia Mundial da Limpeza e registra o descarte irregular de lixo. Ao confirmar a ação, que já estará georreferenciada, o usuário gera pontos dentro do app, que podem ser revertidos em benefícios, premiações, e até horas de estágio no caso de estudantes universitários.

Em parceria com o Instituto Limpa Brasil, o aplicativo QZela preparou um infográfico que orienta a coleta seletiva separada em três frações, e ainda ajuda a apontar o “Lixo sem Covid-19”, para garantir a segurança dos profissionais de saneamento.

Traduzindo em números

Dados da pesquisa Ciclosoft (2018) mostram que a coleta seletiva custa 4,6 vezes mais do que a coleta indiscriminada. O custo, aliado à falta de políticas apropriadas com incentivo das prefeituras e participação da comunidade, faz com que atualmente apenas 22% dos municípios tenham coleta seletiva. Mais de 3 mil municípios brasileiros ainda destinam os resíduos a locais inadequados, como lixões ou aterros, sem recursos sanitários para proteger o meio ambiente ou a saúde da população. O secretário do MMA, André França, contabiliza que esses lixões custam para o meio ambiente e para a saúde cerca de US$ 1 bilhão por ano.

A Abrelpe contabiliza que os resíduos gerados pelo Brasil (79 milhões de toneladas em 2018) encheria um estádio do Maracanã por dia – o quarto maior volume do mundo. Reciclar é única saída viável para reduzir poluição, economizar recursos naturais, diminuir os custos da produção, aumentar a educação ambiental e, ainda por cima, ajudar a financiar a gestão dos próprios resíduos. Mas a administração dessa gestão é imprescindível, e requer monitoramento amplo e inteligente. “Sem a gestão adequada dos resíduos, não há como falar em qualidade de vida para a população”, diz o secretário André França.*

Além de apoiar o Dia Mundial da Limpeza, o aplicativo QZela também permite a gestão de recursos naturais, por meio de ferramentas de business intelligence que viabilizam ações preventivas e criação de projetos pontuais, reconhecendo as demandas particulares de cada região do Brasil. Por meio da plataforma QZela Corp, os gestores públicos e privados podem acompanhar os pontos de descarte e monitorar toda a cadeia dos resíduos.

*Dados da Agência Brasil