Velho Chico, novos parceiros
Promotor da campanha “Eu viro carranca para defender o Velho Chico”, o comitê do rio São Francisco aposta em ferramentas digitais para melhorar gestão
Uma bacia hidrográfica que, sozinha, ocupa uma área equivalente à França ou à Turquia, o que significa 8% do território brasileiro. Essas são as proporções do rio São Francisco, tão grandioso quanto os desafios que enfrenta na gestão de seus recursos hídricos. O famoso “Velho Chico”, amplamente acolhido pela cultura brasileira, abastece e praticamente define a identidade econômica dos estados de Alagoas, Pernambuco, Sergipe, Minas Gerais e Bahia.
App viabiliza engajamento, consenso entre todas as partes \ \ Divergências e conflitos quanto à gestão do Rio São Francisco avançam na medida em que aumenta a demanda – e, com ela, a escassez de recursos. Uma ideia é consenso, no entanto: a de que o tema merece ser amplamente abordado pelos diferentes setores, e, especialmente, o quão necessário é sensibilizar a sociedade para a essa temática.
Com a disseminação do uso do aplicativo QZela pelo celular, espera-se aumentar o engajamento da população residente e visitante do entorno do rio São Francisco, além de alimentar um banco de dados com business intelligence, capaz de classificar e prever questões ligadas à gestão urbana.
Os dados registrados em QZela são monitorados por Inteligência Artificial, com geolocalização que permite a credibilidade da informação. Para o cidadão, QZela surge como uma ferramenta simples, de interface amigável e fácil de usar. Para os gestores, a plataforma oferece uma série de recursos para o direcionamento das informações, que auxiliam nas decisões administrativas, designação de prioridades, manutenções preditivas e preventivas, com consequente redução de custos graças à melhoria do planejamento de operações.
O comitê garante que continua seguindo as recomendações das autoridades de saúde, e para evitar aglomeração de pessoas. Assim, ferramentas digitais como o QZela e as mídias sociais são aliadas na disseminação da campanha. “A mobilização, devido às atuais circunstâncias, consistirá na busca de parcerias com as diversas entidades governamentais e não governamentais, universidades, escolas, associações, entre outros”, diz Anivaldo Miranda Presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco.
Localizado na Bahia, próximo ao limite com Pernambuco, Sergipe e Alagoas, o Centro Universitário do Rio São Francisco, UniRios, leva a sério o papel da instituição de fomentar e proteger a importância do complexo hídrico. Para tanto, o UniRio inseriu essa responsabilidade entre as atividades pedagógicas e acadêmicas com docentes e discentes (UniRios), envolvendo tanto pais quanto colaboradores.
Segundo Marcos de Souza Dantas, professor e assessor de qualidade da Faculdade Sete de Setembro, do UniRios, a campanha apoiada pelo app QZela vai possibilitar que o cidadão observe com mais frequência os problemas no município. “A divulgação nos canais do Qzela vai possibilitar que os usuários – nordestinos ou não – comecem a observar os recursos naturais, em especial o Rio da Integração Nacional”, diz Dantas.
O UniRios é membro do Conselho de Meio Ambiente em Paulo Afonso, analisando situações que podem provocar impactos nas águas e solos.
Pacto das Águas
Em 2019, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) propôs o chamado Pacto das Águas, com o objetivo primordial de reduzir as vazões do rio, especialmente nos trechos Submédio e Baixo São Francisco, considerando as perdas dos sete anos anteriores. O Pacto das Águas, no entanto, não se resume apenas à contenção, mas propõe também transformar a gestão do rio Francisco em uma política de Estado consolidada, em consonância com o governo federal. “O objetivo seria fazer a recarga de aquíferos e a recomposição de matas ciliares e florestal, lutar contra o assoreamento dos rios, impedir que os biomas da Caatinga e do Cerrado fossem destruídos, além de regulamentar a gestão dos recursos hídricos quanto à quantidade e à qualidade das águas”, segundo o presidente do CBHSF, Anivaldo Miranda.
Eu viro Carranca para defender o Velho Chico
Em defesa do rio, o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) criou o “Dia Nacional em Defesa do Velho Chico”. Desde 2014, o comitê promove a campanha “Eu viro carranca para defender o Velho Chico, como uma forma de conscientizar e mobilizar a população quanto ao uso responsável dos recursos hídricos. Campeã do Prêmio ANA 2021 na categoria SINGREH, a campanha Vire Carranca foi idealizada em cima dos usos múltiplos do Velho Chico e da necessidade de se concretizar o Pacto das Águas na bacia do São Francisco. Por seus usos múltiplos, que incluem abastecimento público, agricultura, indústria, geração de energia, navegação, pesca e aquicultura, turismo e recreação, uma série de impactos são causados à bacia, tanto positivos quanto negativos – o que resulta em interações complexas.
Não há plano B
“É preciso preservar agora por meio de ações e projetos concretos para que o rio São Francisco continue vivo”, ainda nas palavras de Miranda. O Pacto das Águas veio suprir uma série de demandas quanto à alocação de água, o aperfeiçoamento dos instrumentos de gestão e o atendimento às condições de crise, como estiagens ou cheias extremas. Mas veio sobretudo pactuar a ação articulada dos estados nas ações de revitalização da bacia, mobilizando a atuação de cada uma das administrações estaduais quanto à execução de ações.
Além de propor ações coordenadas, o Pacto das Águas visa evitar conflitos e estabelecer compromissos e ferramentas de monitoramento e revisão ao longo do tempo.