Pedalar para retomar a mobilidade em meio à pandemia

Infraestrutura ciclística nas cidades ainda está longe de ser ideal, porém a pandemia serviu para acelerar medidas de expansão e de reconhecimento da bicicleta como meio de transporte

June 17, 2020
Publicado por Cleci Leão.

O lento – e inevitavelmente precoce – processo de reabertura das cidades no mundo todo faz oscilarem os índices da pandemia pelo coronavírus, e agrava o paradoxo entre saúde e economia. Ao passo que a população dá sinais desesperados de que não pode mais sustentar a crise econômica, os números da contaminação disparam, causando mais mortes e atacando as perspectivas da humanidade. O problema mais evidente da retomada é a aglomeração de pessoas, impossível de se evitar nas metrópoles, e o transporte público será uma das preocupações centrais de quem não tem alternativas de se proteger melhor para chegar ao trabalho.

Com essa preocupação, a OMS (Organização Mundial de Saúde) divulgou recomendações para que os deslocamentos sejam mais seguros, mas enfatizou que as melhores opções ainda serão a caminhada e a bicicleta, como formas de limitar o contato físico e evitar a doença. E, de quebra, a atividade física ainda promove a saúde preventiva, tão necessária numa situação de guerra em que a imunidade é a única arma que podemos empunhar.

Mais de 100 cidades do mundo aderiram às recomendações da OMS, que, além de indicarem o uso da bicicleta, incluem também melhores horários de circulação em ônibus e trens, e diretrizes sobre como proceder no uso de táxis e no transporte por aplicativo. \ Apostando na alternativa da bicicleta, Berlim e Londres já providenciaram espaços adicionais para a circulação dos ciclistas. Em Milão, há planos de aumentar permanentemente as rotas existentes. Lima impediu o acesso de carros em algumas das ruas liberando apenas o trânsito de pedestres e ciclistas.

Na França, a partir de uma pesquisa que constatou que 60% dos percursos diários das pessoas não ultrapassa 5 Km, o governo estabeleceu políticas de incentivo ao uso da bicicleta, incluindo uma espécie de “bolsa ciclista”: caso o munícipe tenha um equipamento antigo, ou defeituoso, pode solicitar o valor de 50 euros para providenciar os reparos necessários. O orçamento total disponibilizado pelo país para fomentar o uso da bicicleta chega a 20 milhões de euros, e inclui comunicação, guias indicando os melhores percursos, além de extensão de rotas seguindo as principais linhas de transporte rodoviário e ferroviário, alargamento de pistas e manutenção das vias existentes.

Marcha lenta, aclive e insegurança

No Brasil, algumas cidades planejam implantar ou expandir novas rotas, mas o problema ainda está na segurança do próprio ciclista. Além disso, lojas de peças, serviços e equipamentos relacionadas à atividade tiveram permissão manter as portas abertas durante a pandemia –respeitando as regras do distanciamento.

Em Vitória (ES), por conta da pandemia, a prefeitura optou por apressar-se na implantação de novas vias, as chamadas “ciclorrotas” em treze trechos, somando dez quilômetros de cobertura, até então concentrada nas áreas turísticas. As ciclorrotas compreendem um conjunto de sinalizações sobre as vias do transporte rodoviário, e dispensam boa parte das obras físicas, o que mantém o custo mais baixo do que no caso de construção de ciclovias exclusivas.

Em São Paulo, especificamente, a prefeitura anunciou que estão “em andamento” 110Km de obras nas ciclovias, porém o secretário municipal de mobilidade e transportes, Edson Caram, afirmou em entrevista no final de abril que achava perigoso implantar extensões temporárias sem que houvesse o tempo necessário para estudos e planejamento. “Pra mim, a melhor equação é a utilização da bike”, disse o secretário. “Pensamos na Prefeitura de que forma a gente poderia fazer, só que isso requer estudo, e o tempo que nós tivemos para trabalhar foi muito pequeno. Não foi um tempo suficiente para elaborar uma proposta ideal para que isso aconteça. Mas vou trabalhar essa questão”, ele prometeu.

A segurança também é uma preocupação corrente entre os ciclistas. Além de reivindicar uma cobertura mais extensa das vias, condições mais seguras de circulação são o ponto central do apelo das associações que reúnem ciclistas e pedestres na cidade, incluindo a ONG SampaPé!, o Instituto Aromeiazero, Minha Sampa, Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), Ciclocidade, União de Ciclistas do Brasil e a própria Câmara Temática da Bicicleta (CTB) da prefeitura.

Segundo o mapeamento da CET, a cidade de São Paulo possui 504 Km de vias com tratamento cicloviário permanente, sendo 473,7Km de ciclovias/ciclofaixas e 30,3 Km de ciclorrotas, Para utilizar a bike em integração com outros modais, a CET informa que há 7.980 vagas em 75 bicicletários públicos, além de 738 vagas em 29 locais com paraciclos públicos, instalados nos terminais de ônibus, estações de trem, metrô e estacionamentos da própria CET.

Porém, diante da necessidade e da perspectiva mundial, são números praticamente irrisórios. Somente no primeiro dia da retomada das atividades na capital, três milhões de pessoas utilizaram o transporte público – um número expressivo, mesmo representando apenas um terço do volume diário anterior à pandemia.

App viabiliza o exercício da cidadania nas ciclovias

Em consonância com as demandas das ciclovias e de outras questões de zeladoria urbana, o aplicativo gratuito QZela oferece ao usuário a possibilidade de reportar qualquer tipo de problema nas vias e ciclovias, incluindo buracos, queda de galhos ou árvores, sujeira, má sinalização ou situações de degradação.

Além das ciclovias, QZela pode ser usado também apontar mais de 400 outros tipos de problemas do município, divididos em 40 segmentos relacionados aos espaços urbanos no Brasil inteiro.

“Mais do que nunca, as cidades terão de estar prontas para receber os munícipes que vão lentamente retomando as atividades, com novos cuidados e novas demandas – entre elas, a segurança física e condições apropriadas para preservar a saúde”, ressalta Roberto Badra Sallum, CEO da Westars TG, empresa desenvolvedora do app QZela. “Tanto o poder público quanto os gestores e prestadores de serviço deverão estar atentos para reconhecer as necessidades do munícipe. Nesse aspecto, a tecnologia vem colaborar para aproximar a população e os gestores por meio do bem mais precioso da atualidade, que é a informação concisa, checada, georreferenciada e organizada em uma plataforma de business intelligence”, reforça o executivo da Startup.

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