Inteligência artificial deve servir ao ser humano
A tecnologia pode até assustar, mas é o caminho mais consistente para a melhoria da qualidade de vida. E, provavelmente, o único.
Segmentar, prever e simular atitudes futuras e, finalmente, otimizar ações e decisões para atingir melhor e mais rapidamente os objetivos. Esses são os propósitos da ciência de dados para a humanidade, segundo Flávia Takei, sócia e diretora da BCG, uma das maiores consultorias de negócio do mundo.
Neta de japoneses, Flávia Takei nasceu no bairro da Liberdade e morou no interior de Minas Gerais. Durante sua formação como engenheira pela Escola Politécnica da USP, ficou maravilhada com os conceitos da Inteligência Artificial, mas achou que aquilo nunca seria aplicado na vida real. Enganou-se. Nesta segunda-feira, Takei falou para um auditório lotado de estudantes e profissionais ávidos por conhecer um pouco mais sobre o cenário e as perspectivas do mercado crescente da IA.
Também engenheiro da Politécnica, Felipe Fujiwara, VP do SoftBank, trouxe para o palco da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa (BUNKYO) a experiência de um dos maiores grupos de alavancagem de empresas ligadas a tecnologia, em cuja carteira de sucessos estão o Alibaba, Uber, Rappi, Spring, Gympass e Arm. Em sua quarta geração de empresas, o SoftBank tornou-se o maior investidor de tecnologia no mundo, gerando US$ 400 bilhões em ativos mais de 2 bilhões de usuários diariamente.
A mudança é inevitável, e vem em velocidade exponencial. “Estamos vivendo agora o momento mais lento de mudança dos próximos anos: a gente não faz a menor ideia do que vem pela frente”, disse Flávia, sobre as perspectivas do mercado de produtos, serviços e oportunidades. “O importante agora será aprender sempre, ter atitude e se reinventar, não ter medo do novo e manter uma mente inovadora e curiosa”.
Oportunidade ou ameaça?
Flávia Takei mostrou que a distância entre as empresas líderes e as demais está ficando cada vez maior. De um lado, algumas pessoas já conseguem se beneficiar da tecnologia. Do outro, porém, o que a maioria ainda vê é o risco de perder sua relevância, seus conhecimentos ou a própria capacidade de atuação.
Como resultado, ela conta que somente 18% das empresas declaram que realmente estão conseguindo tirar valor da Inteligência Artificial. “70% do desafio é fazer as pessoas usarem; um app de sucesso nasce muito simples, e se mantém nesse formato até as pessoas se acostumarem”, diz a especialista.
Roberto Badra Sallum, sócio fundador e CEO da empresa brasileira que desenvolveu o app QZela, conta que, apesar de a tecnologia já estar pronta para solucionar uma série de problemas, também tem encontrado certa resistência em alguns níveis hierárquicos das empresas. “Às vezes, por receio de utilizar a análise de dados para atingir uma gestão mais eficiente, muitas pessoas preferem manter os formatos manuais e ficam aquém dos resultados possíveis de se atingir”.
Mas ainda há otimismo quanto à relevância humana. Flávia Takei explica que, “embora a máquina seja capaz de captar padrões para indicar o que vai acontecer no futuro, ela não pode lidar com coisas que não aconteceram, ou seja: é o homem quem vai liderar a máquina e tomar decisões a partir dos dados gerados”. Pelo menos por algum tempo.
No caso do app QZela, a grande aposta é justamente no ser humano. O aplicativo nasceu da proposta de trazer a política pública para o bolso do cidadão, de forma que ele possa usar o próprio dispositivo para participar da gestão de seu município.
Enquanto a população vem ganhando mais ferramentas para interagir com áreas em que historicamente não interferia, o reflexo do novo cenário no mercado de trabalho pode não ser tão assustador como parece. Na avaliação de Felipe Fujiwara, “algumas tarefas serão cortadas, mas outras serão criadas”. Segundo o VP do SoftBank, passou-se a dar mais importância à experiência e à capacidade de resolver problemas do que aos carimbos e diplomas. “O balanço líquido é positivo”.