Águas de São Pedro adota aplicativo de zeladoria
App ajuda moradores a compensar a falta de ação do poder público na manutenção dos espaços comuns
Asfalto com necessidade de recapeamento, animais peçonhentos em terrenos baldios, invasões em áreas de proteção de mananciais e má conservação de parques, praças, placas de sinalização e iluminação pública são alguns dos problemas apontados por moradores de Águas de São Pedro, no interior de SP. Preocupados com a manutenção da cidade, cuja economia é dependente do turismo, os munícipes adotaram uma ferramenta interativa através da qual podem abrir ocorrências no próprio celular e reunir dados para cobrar a administração pública.
Usando o aplicativo QZela, recém lançado nas plataformas Androide Apple, os moradores começaram a fiscalizar a própria cidade, e já chamaram a atenção dos desenvolvedores. “Estamos incentivando pequenas comunidades a utilizar o aplicativo, por meio do qual o próprio cidadão terá ferramentas para gerenciar a administração pública do seu município. O exemplo de Águas de São Pedro pode ser replicado em outras cidades, ou em associações de bairro, comunidades de moradores, e até mesmo grupos de comerciantes de pequenos e grandes centros”, explica Roberto Badra, um dos desenvolvedores de QZela e CEO da Westars TG, empresa responsável pelo app.
Município
Com pouco mais de 3,2 mil habitantes, Águas de São Pedro é um dos menores municípios de São Paulo e pertence ao grupo de onze estâncias hidrominerais listadas no Estado. Mais do que uma característica, as águas terapêuticas são um ativo importante para a economia do município: 80% do PIB municipal provêm do setor de serviços.
Historicamente, “Águas” já foi um destino dos apreciadores do Cassino, nas épocas áureas dessa atividade no Brasil. O balneário, construído nos anos 1930, acabou impulsionando o turismo na região e é potencializado pelo Grande Hotel Águas de São Pedro, hoje gerido pelo SENAC como hotel escola.
Atualmente, no entanto, os moradores têm sentido a falta de ação do poder público na manutenção dos espaços comuns, e temem não apenas pelo prejuízo das estruturas, mas também pela desvalorização dos atrativos turísticos.
Recurso não compensa falha na gestão
A condição de estância de Águas de São Pedro confere ao município o direito de receber uma verba anual do DADE, o Departamento de Apoio ao Desenvolvimento das Estâncias. Neste ano, segundo informações da própria prefeitura, foram liberados R$ 2 milhões para realização de obras ligadas à manutenção dos recursos hídricos.
Três projetos ganharam prioridade no convênio assinado entre a prefeitura e o estado: a reforma do portal, a troca do teto do Centro de Convenções e a revitalização do parque das Águas. Para o portal, em cuja obra o secretário Fábio Esteves, afirmou que a prefeitura investirá R$ 720 mil, será formado um comitê para gerenciar e acompanhar os processos. Porém, apesar de a licitação já ter sido encerrada há mais de um mês, por hora, o que os moradores relatam são obras paradas, falta de manutenção e certo descaso.
Segundo Pedro Yamamoto, diretor da Associação de Moradores e Amigos, a AMA Águas de São Pedro, a aplicação dessa verba do DADE é bastante confusa, e o que se vê são falhas na gestão tanto dos recursos quanto dos contratos e das obras em si. “Vem o dinheiro do DADE, às vezes vem parcial, e não há um cumprimento do que é programado, os contratos são revogados e as obras ficam paradas. A cidade acaba sendo um canteiro de obras sem ninguém trabalhando, fica uma montoeira de detritos. Então, o pessoal reclama, e eles removem. Com isso, nada é resolvido”, explica Yamamoto, citando como exemplo a obra de revitalização do canal central do município, onde se vê uma placa, e a obra parada desde 2014. “Às vezes nem é culpa da prefeitura, mas é ineficiência na gestão”, diz.
“As coisas quebram, e ficam quebradas”
A associação alerta também para o desencontro de informações quanto ao saneamento básico. A Sabesp diz que há uma coleta de quase 100% da área, mas existem áreas onde nem há esgoto, as pessoas têm que fazer fossa asséptica. Outra questão que anda bastante deficitária é a mobilidade, de acordo com Pedro Yamamoto: “o asfalto de Águas de São Pedro tem muito buraco, falta operação tapa buraco, recapeamento, e as calçadas estão impróprias para locomoção do pedestre, o que faz com que as pessoas andem nas ruas. Além disso, os parques e o fontanário têm uma manutenção muito ruim, falta limpeza, cuidado, reposição de itens de higiene: as coisas quebram e ficam quebradas”.
Já na iluminação pública, um serviço prestado pela CPFL, os moradores andam reclamando que a cidade está muito escura, há lâmpadas queimadas, ou os postes ficam piscando, lâmpadas acesas durante o dia. “Eu mesmo já reportei vários postes pelo QZela, e estou falando para as pessoas apontarem outros problemas também”, diz Yamamoto. O app oferece ao usuário a possibilidade de filmar a ocorrência antes de enviar, sem gastar a memória do celular. Assim, é possível registrar problemas como luzes piscantes, que não apareceriam em fotos.
A situação de Águas de São Pedro pode ser visualizada na plataforma QZelaCorp, um sistema corporativo integrado que utiliza inteligência artificial para localizar, classificar e quantificar os problemas de zeladoria, e já está sendo disponibilizado para gestores públicos e privados de todo o Brasil. “É uma maneira de dar poder para o cidadão, que passa a gerenciar o seu próprio espaço”, diz Roberto Badra, CEO da Westars TG.