Águas de São Pedro adota aplicativo de zeladoria

App ajuda moradores a compensar a falta de ação do poder público na manutenção dos espaços comuns

October 11, 2019
Publicado por Cleci Leão.

Asfalto com necessidade de recapeamento, animais peçonhentos em terrenos baldios, invasões em áreas de proteção de mananciais e má conservação de parques, praças, placas de sinalização e iluminação pública são alguns dos problemas apontados por moradores de Águas de São Pedro, no interior de SP. Preocupados com a manutenção da cidade, cuja economia é dependente do turismo, os munícipes adotaram uma ferramenta interativa através da qual podem abrir ocorrências no próprio celular e reunir dados para cobrar a administração pública.

Usando o aplicativo QZela, recém lançado nas plataformas Androide Apple, os moradores começaram a fiscalizar a própria cidade, e já chamaram a atenção dos desenvolvedores. “Estamos incentivando pequenas comunidades a utilizar o aplicativo, por meio do qual o próprio cidadão terá ferramentas para gerenciar a administração pública do seu município. O exemplo de Águas de São Pedro pode ser replicado em outras cidades, ou em associações de bairro, comunidades de moradores, e até mesmo grupos de comerciantes de pequenos e grandes centros”, explica Roberto Badra, um dos desenvolvedores de QZela e CEO da Westars TG, empresa responsável pelo app.

Município

Com pouco mais de 3,2 mil habitantes, Águas de São Pedro é um dos menores municípios de São Paulo e pertence ao grupo de onze estâncias hidrominerais listadas no Estado. Mais do que uma característica, as águas terapêuticas são um ativo importante para a economia do município: 80% do PIB municipal provêm do setor de serviços.

Historicamente, “Águas” já foi um destino dos apreciadores do Cassino, nas épocas áureas dessa atividade no Brasil. O balneário, construído nos anos 1930, acabou impulsionando o turismo na região e é potencializado pelo Grande Hotel Águas de São Pedro, hoje gerido pelo SENAC como hotel escola.

Atualmente, no entanto, os moradores têm sentido a falta de ação do poder público na manutenção dos espaços comuns, e temem não apenas pelo prejuízo das estruturas, mas também pela desvalorização dos atrativos turísticos.

Recurso não compensa falha na gestão

A condição de estância de Águas de São Pedro confere ao município o direito de receber uma verba anual do DADE, o Departamento de Apoio ao Desenvolvimento das Estâncias. Neste ano, segundo informações da própria prefeitura, foram liberados R$ 2 milhões para realização de obras ligadas à manutenção dos recursos hídricos.

Três projetos ganharam prioridade no convênio assinado entre a prefeitura e o estado: a reforma do portal, a troca do teto do Centro de Convenções e a revitalização do parque das Águas. Para o portal, em cuja obra o secretário Fábio Esteves, afirmou que a prefeitura investirá R$ 720 mil, será formado um comitê para gerenciar e acompanhar os processos. Porém, apesar de a licitação já ter sido encerrada há mais de um mês, por hora, o que os moradores relatam são obras paradas, falta de manutenção e certo descaso.

Segundo Pedro Yamamoto, diretor da Associação de Moradores e Amigos, a AMA Águas de São Pedro, a aplicação dessa verba do DADE é bastante confusa, e o que se vê são falhas na gestão tanto dos recursos quanto dos contratos e das obras em si. “Vem o dinheiro do DADE, às vezes vem parcial, e não há um cumprimento do que é programado, os contratos são revogados e as obras ficam paradas. A cidade acaba sendo um canteiro de obras sem ninguém trabalhando, fica uma montoeira de detritos. Então, o pessoal reclama, e eles removem. Com isso, nada é resolvido”, explica Yamamoto, citando como exemplo a obra de revitalização do canal central do município, onde se vê uma placa, e a obra parada desde 2014. “Às vezes nem é culpa da prefeitura, mas é ineficiência na gestão”, diz.

“As coisas quebram, e ficam quebradas”

A associação alerta também para o desencontro de informações quanto ao saneamento básico. A Sabesp diz que há uma coleta de quase 100% da área, mas existem áreas onde nem há esgoto, as pessoas têm que fazer fossa asséptica. Outra questão que anda bastante deficitária é a mobilidade, de acordo com Pedro Yamamoto: “o asfalto de Águas de São Pedro tem muito buraco, falta operação tapa buraco, recapeamento, e as calçadas estão impróprias para locomoção do pedestre, o que faz com que as pessoas andem nas ruas. Além disso, os parques e o fontanário têm uma manutenção muito ruim, falta limpeza, cuidado, reposição de itens de higiene: as coisas quebram e ficam quebradas”.

Já na iluminação pública, um serviço prestado pela CPFL, os moradores andam reclamando que a cidade está muito escura, há lâmpadas queimadas, ou os postes ficam piscando, lâmpadas acesas durante o dia. “Eu mesmo já reportei vários postes pelo QZela, e estou falando para as pessoas apontarem outros problemas também”, diz Yamamoto. O app oferece ao usuário a possibilidade de filmar a ocorrência antes de enviar, sem gastar a memória do celular. Assim, é possível registrar problemas como luzes piscantes, que não apareceriam em fotos.

A situação de Águas de São Pedro pode ser visualizada na plataforma QZelaCorp, um sistema corporativo integrado que utiliza inteligência artificial para localizar, classificar e quantificar os problemas de zeladoria, e já está sendo disponibilizado para gestores públicos e privados de todo o Brasil. “É uma maneira de dar poder para o cidadão, que passa a gerenciar o seu próprio espaço”, diz Roberto Badra, CEO da Westars TG.