App oferece tecnologia a serviço da cidadania

Uso de recursos digitais para gestão de municípios é solução mundial para criar engajamento e melhorar serviços com redução de custos

November 05, 2019
Publicado por Cleci Leão.

Informação e inteligência artificial têm sido as grandes ferramentas de gestão das iniciativas mais bem-sucedidas do mundo. E o conceito vem sendo aplicado não apenas na administração de empresas e outras organizações, mas também na gestão de municípios e áreas urbanas, para melhoria de processos operacionais, e da própria cidadania.

Foi observando esta tendência que os executivos Roberto Badra e Edson Rocha desenvolveram no Brasil um aplicativo que deve revolucionar os sistemas de zeladoria de municípios e gestão pública ou privada de serviços ao cidadão.

O QZela, já disponível para download nas plataformas Android e iOS, é um aplicativo brasileiro no qual o próprio munícipe pode apontar os problemas de zeladoria e manutenção que encontra na cidade.

A interface do QZela é bastante simples, e permite a qualquer usuário cadastrado não apenas reportar a ocorrência, mas também fotografar ou filmar o local, acompanhar a solução do problema reportado e até marcá-la como resolvida mais tarde.

A partir do envio da ocorrência, os dados gerados pelo aplicativo alimentam um banco de dados preciso e em tempo real, administrado por inteligência artificial. “Os dados podem ser visualizados no próprio QZela, ou podem ser integrados ao próprio sistema do prestador de serviço público ou privado”, explica Edson Rocha, engenheiro de sistemas e tecnologia e CIO da start-up.

Com um mapeamento abrangente dos municípios brasileiros, o QZela alimenta uma plataforma de Business Intelligence através da qual o gestor público ou privado que contrata o sistema pode gerenciar as ocorrências municipais por área, criticidade, cronologia, tipo de ocorrência ou outro critério estabelecido.

“É um sistema em que todos ganham”, explica Roberto Badra, engenheiro de formação que tem MBA em gestão pública pela FGV. “O munícipe, porque terá uma vida melhor. A prestadora de serviços, porque poderá refinar seu planejamento e realizar uma gestão que lhe permitirá reduzir custos e trabalhar de forma mais eficiente. E o poder público, porque terá uma ferramenta para reduzir gastos e controlar melhor os seus resultados.”

O QZela é uma iniciativa privada, porém segue alguns princípios aplicados mundialmente por administrações públicas, que vêm fazendo uso da tecnologia e inteligência artificial para melhorar a gestão de municípios.

Países e cidades digitais compartilham suas experiências

Em 2006, Portugal adotou um programa chamado Simplex, de simplificação administrativa e legislativa, que melhorou a gestão e trouxe economia para os cofres públicos e privados.

Um estudo da Universidade Nova de Lisboa que avaliou três medidas do programa em 2016 mostrou que as empresas chegaram a poupar 624 milhões de euros; o impacto econômico total atingiu pelo menos 1 bilhão de euros e tornou possível liberar a força de trabalho de 303 funcionários públicos.

A iniciativa inspirou a Comissão Europeia a encomendar estudos semelhantes para outras cidades do continente.

Recentemente, Portugal entrou para o “The Digital 9”, um grupo de nove países comprometidos com a transformação digital na administração pública originalmente criado pelo Reino Unido, Estônia, Israel, Nova Zelândia e Coreia do Sul.

Exemplos não faltam. Tallin, na Estônia, tem sido exemplo mundial de cidade inteligente com base em três conceitos: acessibilidade, interoperabilidade e interface amigável.

Na Nova Zelândia, a cidade inteligente de Christchurch adotou sensores públicos e particulares para detecção de terremotos, além de sistemas de tecnologia que conectam organizações públicas e privadas e reúnem informações dos moradores e visitantes para melhor acesso aos serviços municipais.

As iniciativas variem de país para país, mas elas têm um ponto em comum: a busca de estabelecer um relacionamento mais próximo entre o Poder Público, o cidadão e as empresas.

O cidadão é peça-chave

Tecnologias com uso da Internet para reinventar estruturas e processos já estão na pauta das administrações públicas há décadas.

O próprio Brasil já teve êxito em algumas iniciativas digitais para melhoria da gestão de processos, como a implantação do Poupatempo, programas de facilitação para o empreendedor e sistemas de integração alfandegária para desburocratização do comércio exterior.

No entanto, o país ainda batalha para superar a cultura da burocracia e, sobretudo, conseguir que os programas tenham continuidade ao longo dos anos, mesmo diante da mudança de governos.

Além disso, em todas as iniciativas, é necessário incluir nos processos o próprio cidadão, que é peça chave para contribuir com informações e soluções.

Este foi um dos focos principais da iniciativa de Portugal, segundo o secretário de Estado Adjunto e da Modernização Administrativa do país, Luís Filipe Loureiro Goes Pinheiro.

Em um painel organizado pela Fundação FHC, em São Paulo, Pinheiro explicou que alguns sistemas do programa português inverteram a lógica de desconfiança da administração pública em relação aos cidadãos. “Passou-se a adotar uma atitude positiva, que confia a priori nas informações prestadas, para fiscalizar posteriormente”.

O sistema do QZela também conta com o engajamento e a credibilidade das informações do próprio cidadão. Mas, por ser uma plataforma colaborativa, e não uma ferramenta do Poder Público, a checagem de informações reverte em um sistema amigável de pontuação, em vez de atrelar o uso a regulamentos ou multas.

Em seu perfil, o cidadão participativo acumula pontos tanto pela frequência quanto pela consistência das informações compartilhadas.

Para o usuário, o aplicativo QZela é gratuito e de fácil acesso. A expectativa dos desenvolvedores é fazer com que a ferramenta se torne grande aliada no protagonismo do cidadão em seu próprio município, porém eles compreendem que serão necessários alguns meses de utilização até que a rede de usuários ganhe corpo.

O desenvolvimento desse tipo de plataforma baseia-se no conceito de “network effect”, ou efeito de rede: quanto mais adeptos se conquistam, melhor fica o serviço entregue à comunidade de usuários do próprio aplicativo.